domingo, 4 de abril de 2021

Com você eu vi partir a aurora azul


 

O Próximo Gin




 

2021 - II Congresso Internacional do Medo

 


Porque “existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro!”

“Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços...” 

O poema “Congresso Internacional do Medo, escrito por Carlos Drummond de Andrade e publicado em 1940, no Livro “Sentimento do Mundo, mostra-se, 80 anos após seu lançamento, bem atual. O texto levado aos leitores em plena Segunda Guerra Mundial é uma das suas composições mais famosas e expressa a angústia do poeta frente as dores de um período extremamente difícil da nossa história. Angústia esta que, envolta por sentimentos universalizados, revela-se comprometida com um momento histórico, sendo entretanto, atemporal. Coisas da poesia... A poesia, entre as suas diversas funções, traz aos poetas inúmeras possibilidades, dentre as quais a de ser um espelho das suas realidades, o reflexo de uma época, mesmo que distorcido pelo olhar pessoal do autor e de quem lê a obra em momentos futuros.  Nesses novos tempos, tempos de pandemia e quarentena, a leitura deste poema me fez pensar sobre os períodos históricos e a relação destes entre si e com a escrita literária... O medo vivido por Drummond frente aos horrores da Guerra com suas mortes, suas pressões econômicas e sociais, apesar de distante, configura-se tão atual. Hoje, como em 1940, vivemos os nossos medos. Estamos diante de uma nova guerra no mundo, de uma grande guerra, não entre potencias, mas, contra um único algoz, tão cruel e implacável quanto os de outrora: o novo Coronavírus ou SARS-CoV-2  – O atual líder mundial que traz no seu enredo novos personagens, com suas velhas ideologias, nos fazendo reviver  os nossos medos de outrora, dentre os quais: “ o medo dos soldados, o medo das igrejas, o medo dos ditadores, o medo dos democratas...” Drummond, certamente, na sua catarse diante daquele trágico cenário não divisava futuros, via-se compelido a pensá-lo partindo de um sentimento sobre uma situação inerente a todos: o medo! O medo da morte que tanto “ontem” como hoje se espalha por todo o mundo, o medo que distancia pessoas, proibindo os afagos e causando a angústia. O medo da vida, da nova doença, da nova ciência, da cura e da vacina...  Em 1940 o seu Congresso Internacional trouxe à tona a necessidade de se discutir o momento mundial com todos os seus sujeitos, com conflitos que, de tão tensos e cruéis, amarelavam as pessoas... Hoje, diante das milhares de mortes cotidianas que se apresentam  “na vida de nossas retinas tão fatigadas”, urge no nosso peito o clamor por um diálogo mundial que aponte caminhos reais para que a guerra contra o SARS-CoV-2 chegue ao fim.  Nesses momentos, ainda medrosos diante dos corpos espalhados nos quatro cantos do mundo e enterrados sob o chão das nossas salas, vivemos os temores mais íntimos e ainda pensamos nos túmulos sobre os quais nascerão flores amarelas e medrosas. Somos a trágica poesia na história de um novo século. Tememos cantar e cavar as nossas próprias covas...